Artigo: E UM SILÊNCIO SERVINDO DE AMÉM
Por Alana Regina Sousa de Menezes
Eu não sei bem em nome de quem a gente faz um pedido desses. Mas, mesmo assim, eu quero fazer. É, na verdade, um pedido até egoísta, porque eu já não aguento mais estar diante de tanta crueldade, tanta má notícia, tanta barbaridade. Não sei expressar ao certo quantos de meus dias já foram estragados a partir do momento em que eu li um jornal ou assisti a um noticiário. Isso me indigna, me faz sentir monstro no meio de monstros; talvez por ficar calada e sair para realizar meus sonhos, depois de ouvir no rádio que no Pará uma criança de 8 anos foi baleada na cabeça no meio de uma guerra de traficantes que disputavam um ponto de venda. Ou ainda depois de saber que em Goiânia uma criança de 3 anos foi vítima de estupro e tentativa de homicídio. A gente sai de casa sorrindo tão naturalmente... mesmo depois de ver a foto do rapaz que foi espancado até a morte em Florianópolis. Porque era homossexual. Mentira. Não é porque ele era homossexual e também não foi porque aquele rapaz morto a pauladas e pedradas era negro. Até quando a gente vai procurar justificar a violência que não tem justificativa? Não se mata ninguém pelo que ele é, se mata pelo que nós somos! Ou queríamos ser. A intolerância não é causada pela vítima, parem de dizer que o culpado de uma morte é o morto!
Eu não sei. Não sei bem o que quero dizer. Mas, hoje uma sensação me tomou às sete da manhã, ao ouvir as notícias no rádio: Estamos perdidos. Não havia boas notícias. Sei que muita gente morreu ontem e muita gente está morrendo por aí, agora. Alguns estão sendo machucados, como um ser humano que levou 38 pontos no rosto, graças a golpes de navalha, porque existe alguém no mundo que acha que ser travesti é errado, mas matar não. Também tem um menino, que ainda este mês - enquanto você ficava enraivecido porque o programa do Faustão não está tão bom ou porque seu time está mal no campeonato - foi vítima de violência sexual aos 7 anos. E isso não te amedronta, isso não tira sua alegria de viver. É tão natural.
Morreu porque é gay, morreu porque é negro, apanhou porque é mulher... parem! Será que ninguém enxerga que a grande "causa mortis" desse mundo é a falta de respeito pela vontade e condição do outro? Desculpem. Desculpem se isso tudo parece sem fundamento ou causa aparente. Mas não dá pra sair de casa todos os dias com um sorriso estampado no rosto, sabendo o que acontece com as pessoas por aí. Pessoas como eu, como meus amigos e minha família. Sabe com que me preocupo? - e por isso falei no começo que era um apelo egoísta - Me preocupo com o dia que a bala vier na minha direção. Na direção de alguém que amo. Sabem? A bala, a faca, a asfixia... tudo isso pode estar no seu peito daqui a pouco, pode estar no seu pescoço. E aí, sim. Será suficiente para apagar qualquer sorriso, qualquer sonho.
Eu já disse, não sei bem qual é o pedido que eu venho fazer. Mas eu queria que vocês parassem. Em nome dos baleados, dos esfaqueados, dos estrangulados, dos esquartejados, dos queimados, que são vítimas de ódio pelo simples fato de terem nascido e de buscarem a felicidade. Não sei, não entendo. Sei que cada notícia dessa me estraga um dia de cada vez. Céus, vocês estão matando todo mundo! Vocês estão matando muitos corajosos, muita gente que para ser feliz, só estava matando seus próprios medos. Eu não sei, não sei mesmo o que eu quero dizer com esse texto, mas eu peço que vocês parem.
Que não adiante eu pedir, mas eu peço. Quando a bala atingir vocês e o rosto de vocês for desfigurado, talvez vocês peçam também. Não sei. Mas acho que João Bosco sabia, João Bosco viu o corpo estendido no chão. Olha, João Bosco, pelo menos meu silêncio já não serve de amém. Alana Regina Sousa de Menezes: Acadêmica do Curso de Direito da UFMS – Campus de Três Lagoas (MS). E-mail: alanareginasm@hotmail.com
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